Quero aqui tecer alguns comentários acerca das minhas reflexões sobre o uso das tecnologias em sala de aula, com base nos textos lidos e discussões tidas na disciplina de Ensino e Identidade Docente. Dados os múltiplos viéses da questão, vou colocar em tópicos aquilo que pensei sobre o assunto nas últimas semanas, e o que venho pensando desde o início da graduação, quando a estes processos passaram, a ser vendidos como modelo de salvação de forma mais enfática dentro da minha trajetória docente. É com enorme alívio que digo que a disciplina tem me mostrado que pesquisas sensatas e equilibradas existem, e que em se tratando deste assunto, nada é tão fundamental quanto o feeling e o bom senso do professor. A tecnologia existe, ajuda, mas não faz milagres. E a sala de aula continua sendo como a cozinha ou o laboratório: existem os métodos, as receitas, mas nada substitui a mão do cozinheiro, ou a experiência do cientista.
1. Nativos e imigrantes digitais
“De um lado, estão os nativos da era digital, que não precisam dispender esforços adicionais para reconhecer este potencial, uma vez que tal reconhecimento parece fazer parte de sua constituição sociocultural. De outro, temos os imigrantes digitais, classificação dada a todos aqueles que não são contemporâneos das tecnologias digitais de rede. Estes, por mais esforços que empreguem na busca de apreender as técnicas de manuseio dos recursos tecnológicos, dificilmente desenvolverão a fluência e a naturalidade própria das novas gerações. Mesmo considerando essa diferença, acreditamos que a decisão consciente e o investimento devem ser na formação dos professores, tanto dos nativos quanto dos imigrantes.” (TEIXEIRA, CARVALHO e GRASSEL, p. 45)
Há algumas semanas, em uma de nossas aulas de Ensino e Identidade Docente, um vídeo assustador causou polêmica. De edição grosseira, o vídeo disponível no site Youtube mostrava um menino desafiando seus prováveis professores. O discurso era mais ou menos assim: você, professor, conseguirá me ensinar alguma coisa, você acha que pode me ensinar, se eu domino as ferramentas digitais melhor que ninguém? Eu sou um nativo digital...
As tecnologias são boas. Sem elas é impossível acompanhar o que acontece no mundo, estar a par. É preciso estar conectado a este mundo para se aproximar dos estudantes de hoje e de amanhã, fato. E no entanto, será mesmo que a tecnologia vai salvar as salas de aula?
A inexistência de fórmulas prontas. Verdade que meus professores do magistério já me diziam. Mas eu acredito na verdade de que eu ensino meus professores e de que meus alunos me ensinam também. Na verdade de que o interesse é a chave da motivação, das revoluções individuais e coletivas. Mais do que teorizar sobre os processos de transformação que a tecnologia nos traz, penso que devamos viver estes processos. É preciso estar a par do mundo dos alunos, com ou sem o último equipamento da Apple.
2. Os desafios do trabalho em grupo e a facilidade das ferramentas digitais de comunicação
Ainda sobre nativos e imigrantes, destaquei o trecho abaixo do texto..., que trata da facilidade dos alunos, nativos digitais, na utilização das ferramentas digitais de cominicação, em face aos problemas apontados pelos professores quando solicitam que seus alunos trabalhem em grupo.
“Borba (2001, p.46) sugere que 'os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam seu raciocínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente transformando essas técnicas'. Dessa forma podemos compreender que a forma de trabalho do professor imigrante difere e muito da forma como seus alunos percebem o conhecimento e sua produção. Muitos docentes reclamam que seus alunos lêem pouco, que são desmotivados para as atividades em sala de aula e possuem dificuldade de trabalhar em grupo. No entanto observa-se o mesmo grupo de alunos interagindo com seus colegas no Orkut2, MSN3 e desfrutando dos recursos da Internet de forma criativa e imersiva.[...] Logo, excluir o ensino fundamental do acesso e reflexão relacionado às possibilidades das Tecnologias Digitais em sala de aula é abrir uma lacuna na formação dos alunos.” (MARTINS e GIRAFFA, p.3632)
Certo, os fazeres do aluno e do professor, seus modos de pensar se diferem. O mundo virtual tem suas facilidades. E trabalhar em grupo é uma dificuldade que deve ser encarada no mundo físico. Os seres humanos são complexos e eu penso que não são os ambientes vitruais que vão ensinar os alunos a trabalhar em grupo. Facilita, é claro, o trabalho do professor. Mas como fica o meu aluno ao enfrentar o mercado de trabalho, em seu relacioinamento com os colegas? No mundo do trabalho, seja ele qual for, as pessoas ainda se reúnem presencialmente. E é a escola não pode se esquivar da tarefa de formar os alunos para o convívio social, a discussão presencial, com suas nuances, como aprender a hora de falar. No mundo virtual as pessoas podem falar ao mesmo tempo. Nada se perde, tudo ficará escrito ali. Mas e na vida real, como articular o pensamento em uma conversa, respeitando a vez de falar? O uso destas ferramentas facilita, sim. Mas utilizar somente a metodologia sugerida pelos autores não acrescenta muito mais do que o aluno já conhece. E para aprender é preciso ser desafiado! Uma boa articulação, para os trabalhos em grupo, entre o mundo físico e o virtual requereria o uso de fóruns, com um cuidado especial com a linguagem, orientando os alunos em seu uso correto, além das discussões presenciais. Porque o uso da tecnologia na comunicação também gera vícios de linguagem, erros gramaticais, e isso pode ser utilizado como matéria-prima para o trabalho em sala de aula. Neste ponto, concordo com os autores quando os mesmos afirmam que:
“Acredita-se que o uso pelo uso da tecnologia não será capaz por si só de construir
aprendizagens mais significativas. A formação dos professores necessita mais do que privilegiar um montante de informações. È necessário criar oportunidades e condições para desenvolver competências para uso de ferramentas digitais um visão crítica e contextualizada”, (MARTINS e GIRAFFA, p.3643).
3. O investimento em material, o investimento em formação.
Em se tratando de projetos governamentais para inserir as tecnologias no ambiente escolar, como o projeto UCA (um computador por aluno)
, concordo com a afirmação abaixo, extraída do mesmo texto:
“Não é possível comprar qualidade, só pode-se desenvolvê-la. O resgate das competências docentes faz a diferença entre escolas bem equipadas e escolas de boa qualidade. Qualidade se mede por nível de aprendizagens e não por quantidade de materiais investidos. A formação docente, a construção ou a resignificação de competências do professor, torna-se uma das principais âncoras nos casos de sucesso do uso dos recursos tecnológicos na escola.” (MARTINS e GIRAFFA, p.3634).
Porque, tecnologia por tecnologia, o Rato Studiorium não deixa de ser uma tecnologia, e não deixa de ser inovador para a sua época. Eu não acredito que o uso de um único livro didático possa ser realmente efetivo dado o contexto atual. Será que é possível ainda manter os alunos sentados, lendo um texto único, para depois responder questionamentos sobre os mesmo? Isso ainda funciona na era da velociadade das informações? O uso da internet para fazer pesquisas enriquece o aprendizado em sala de aula, mas é necessário que se utilize uma metodologia adequada e sensível às necessidades da turma. E professores bem capacitados são requeridos. Então, mais do que investir em equipamentos para as escolas, deve-se investir em uma formação de qualidade para professores, bem como em métodos de promoção para aqueles que bem utilizarem os novos conhecimentos.
Referências: